Por Cláudia Brito
Quando ela tinha 12 semanas de vida, seus pais descobriram
que ela tinha acrania, ou seja, sua calota craniana não havia se formado e suas
estruturas cerebrais seriam danificadas em contato com o líquido amniótico. Mas
mesmo tendo sido desenganada pelos médicos, que disseram que ela morreria logo
após o parto, Vitória completou dois anos e dois meses de vida recentemente.
Nesta entrevista exclusiva, Joana Schimitz Croxato revelou todas as bênçãos que
recebe diariamente junto com seu marido Marcelo Almeida Croxato, através da
vida da filha.
TF – Como foi receber o diagnóstico de anencefalia?
Joana Schmitz – Foi muito difícil, mas ao longo
da gravidez quando eu comecei a sentir ela se mexer foi maravilhoso. Sentimos
que estávamos no caminho certo. Acreditamos que Deus poderia mudar esta
sentença, e decidimos amá-la da mesma forma como temos sido amados por Deus, de
forma individual, única e incondicional.
Eu sempre tive o sonho de ser mãe e quando soube do
diagnóstico o primeiro pensamento foi o de que passariam os nove meses e eu não
teria a oportunidade de ser mãe porque meu bebê iria morrer. Mas a medida em
que decidimos receber a Vitória e aceitá-la, eu percebi que estava me tornando
mãe já na gestação e que não adiantava eu querer amar um outro filho se Deus
estava me dando uma filha muito especial para amar. Eu me realizei muito como
mãe.
Quando ela nasceu senti uma alegria imensa, uma paz muito
grande, mesmo sem saber o que iria acontecer. Eu creio que essa paz vem de
Deus, porque a gente decidiu colocar.
Ele acima dessa situação e deixá-Lo mostrar o que era
melhor. Fomos surpreendidos com um lindo milagre, uma vida preciosa que temos
visto se desenvolver diante dos nossos olhos, pela misericórdia de Deus.
TF – Qual foi o momento mais especial?
Joana Schmitz – Foi quando eu consegui amamentar
a minha filha e quando Vitória recebeu alta do hospital, com cinco meses e
meio. Foi um momento incrível e inesquecível. Parecia que esse dia nunca iria
chegar, porque ela ficou cinco meses na UTI. Foi um sentimento indescritível
quando a colocaram em meus braços e soubemos que poderíamos levá-la para casa.
TF – Como é o dia a dia com a Vitória?
Joana Schmitz – É uma alegria para a gente. Ela
é o nosso tesouro, uma criança muito especial que só nos trouxe coisas boas.
Ela exige alguns cuidados, existe uma preocupação um pouco maior. Fazemos um acompanhamento
médico, mas é uma grande realização para mim. Eu nunca imaginei que iria me
sentir tão feliz e realizada como mãe, cada pequeno progresso é uma alegria. É
muito bom perceber o quanto ela sente o nosso amor e expressa alegria em viver
em família.
TF – Como foi a escolha do nome da Vitória?
Joana Schmitz – A avó do meu marido se chama
Maria Vitória e o meu marido tinha vontade que ela se chamasse Vitória. Um dia
na Igreja ouvimos um louvor que falava o quanto Cristo na Cruz já tinha vencido
a morte por nós, e eu senti no coração que era esse o nome que eu deveria dar
para ela, porque independente do que iria acontecer. Pela nossa fé,
acreditávamos que valeria a pena respeitarmos a vida dela e confiar em Deus.
As palavras bíblicas que dizem que no meio da tempestade
Cristo está com a gente e que contam os milagres realizados por Jesus
aumentaram a nossa fé. Nós sabíamos que a possibilidade dela sobreviver era
remota, mas confiamos que Deus estava acima desse diagnóstico, que Ele estava
no controle da situação, que existia um propósito para tudo e que algo especial
viria junto com tudo isso. Essas certezas nos motivaram a confiar, a seguir em
frente com paz e tranquilidade.
Nosso coração também foi tocado, antes mesmo de sabermos do
diagnóstico da Vitória, pela palavra bíblica que diz: “Deus não é homem para
mentir, nem alguém para se arrepender. Alguma vez prometeu sem cumprir? Por
acaso falou e não executou?” (Nm 23,19). Essa promessa nos ajudou a seguir em
frente.
A leitura da Bíblia nos lembra que os milagres acontececem a
partir da nossa fé e que “tudo é possível para Deus” (Lc 1,37). Como eu poderia
tomar essa decisão de interromper a vida dela, porque achava que ela não iria
sobreviver? Sabia que Deus estava acima disso e que Ele poderia mudar o rumo da
história. A vida da Vitória nos aproximou muito de Deus, nos ajudou muito a
olhar para Cristo e a confiar.
TF – O que você diria a uma mãe que enfrenta uma
situação semelhante?
Joana Schmitz – Crie um vínculo com o seu filho,
dê tempo e espere para ver o quanto essa criança vai ser especial. Será uma
emoção muito grande sentir esse bebê se mexer e crescer no seu ventre. Faça
tudo o que você faria por um bebê que não tivesse esse problema e tenha
esperança. É muito importante que a mãe não deixe ninguém tirar esse sonho e
esse direito que ela tem de ter esse filho e de amar essa criança pelo tempo
que ela viver, mesmo que seja pouco. É preciso lutar também para que o bebê
receba todo o tratamento necessário e para que tenha qualidade de vida.
A Vitória é uma criança muito doce, muito especial, que
demonstra o quanto ela se sente amada. Essa deficiência não a torna inferior ou
menos merecedora de amor, e é uma alegria saber que ela tem uma história e é um
exemplo.
Eu estou à disposição para ajudar no que for possível. Nós
criamos um grupo de apoio para ajudar mães que enfrentam situações semelhantes,
para que possamos trocar experiências e receber suporte emocional.
O link do Grupo Vida pode ser acessado pelo blog www.amadavitoriadecristo.blogspot.com.br,
que eu criei para contar a história de Vitória.
Manifestação contra o aborto de bebês anencéfalos
No dia 11 de abril, o Supremo Tribunal Federal julgará a
Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), nº 54, para decidir se o
aborto poderá ser realizado nos casos dos bebês anencéfalos. Para impedir a
sentença de morte de crianças inocentes, diversos movimentos a favor da vida e
dos direitos humanos convocam a população a manifestar-se contra o aborto.
Segundo o coordenador da Pastoral da Comunicação do
Vicariato Jacarepaguá, padre Francisco Reinaldo Oliveira, que é pároco da
Paróquia São Sebastião, existe uma pressão de uma minoria em relação a essa
questão, e a sociedade, especialmente os cristãos católicos comprometidos com a
defesa da vida, deve se mobilizar para manifestar o repúdio total a essa ação,
porque a maior parte da população brasileira é contrária ao aborto.
“A vida é um dom precioso de Deus dado a cada um de nós, e em qualquer um dos
seus estágios e circunstâncias jamais deve ser eliminada por qualquer fator que
seja. Nada pode condicionar o direito à vida de uma pessoa, muito menos de uma
criança que está para vir ao mundo. Uma atitude como essa seria arbitrária e
contrária a tudo o que acreditamos e professamos como verdade de fé. Todos nós
devemos manifestar a nossa rejeição a esta atitude, através de cartas e emails
ao STF para que essa situação seja revertida”, afirmou o sacerdote.
No dia 10 de abril, a partir das 18h, os movimentos Legislação e Vida (São
Paulo) e Pró-Vida e Família (Brasília) vão realizar uma vigília de oração. No
site do Movimento Pró-Vida de Anápolis (GO), os internautas poderão ter acesso
ao link da Campanha “Cartas ao STF pela vida dos bebês anencéfalos”, e
preencher a carta que deverá ser enviada ao STF. Informações: www.providaanapolis.org.br.
Anencefalia: um fim no amor ou no lixo
A discussão da legalidade do aborto de um bebê anencéfalo
envolve várias abordagens tanto científicas, quanto éticas e religiosas. A
única verdade em comum está na definição técnica: anencefalia é uma malformação
rara e grave que consiste na ausência de formação do cérebro, cerebelo e da
calota craniana e que por isso leva o nascituro a um estado de morte eminente,
principalmente após seu nascimento. Contudo, sempre é preservado nesses casos o
tronco cerebral, que garante por instantes ou até mesmo dias ou meses o
funcionamento, mesmo que desordenado das funções vitais.
As grandes discussões giram em torno de três questões: a
primeira está no impasse se um bebê anencéfalo pode ou não ser considerado com
morte encefálica no eletroencefalograma mesmo com atividade no tronco
encefálico; a segunda está no relato de alguns casos reais de anencefalia (e
não de malformações menos graves) que conseguiram ser viáveis por um tempo mais
prolongado como dias e meses e a terceira está no que seria o pior sofrimento
das mães desses anencéfalos: o de precipitar a morte de seu filho ou de levá-lo
conscientemente até uma morte natural.
Independente de todas essas questões, sabemos que a
anencefalia é uma doença grave, irreversível e que levará o bebê
invariavelmente à morte. O que aqui discutimos primordialmente é como será esse
fim: a mãe pode amar seu filho anencéfalo, trocar experiências e palavras de
amor enquanto ele sobreviver e, assim, por meios naturais e dignos acompanhá-lo
até a morte ou, se assim o STF deliberar, a mãe, sem o ter amado, decidir por
antecipar a morte de seu filho e de forma violenta e indigna dá-lhe um fim numa
lata de lixo. A morte é infelizmente inevitável, mas para os bebês anencéfalos
estamos escolhendo o amor ou o lixo.
Paulo César Silva Tavares - médico pediatra formado e
especializado na UFRJ
Um comentário:
Só tem um detalhe: a Vitória tem ACRANIA e NÂO anencefalia.
São dois quadros distintos com diferentes chances de sobrevida, sendo na acrania, muito maiores e quase sempre nascem vivos.
Postar um comentário