Abortar?
Como assim abortar? E interromper a vida da minha filha?
Quem
aquela médica pensava que era pra me dizer o que era o melhor a fazer?
Foram
essas as perguntas que me fiz mesmo depois de me acalmar, com o diagnóstico da
síndrome da minha filha ainda entalado na garganta. Eu já me sentia mãe, desde
antes de confirmar a gravidez. Como poderia pensar em uma coisa dessas? Resolvi
apenas continuar o ciclo natural das coisas, da vida. Não houve dúvida, nem
minha nem do meu marido. Aguentaríamos o quanto a Duda ou Madú, aguentasse. E
assim levamos até a 39ª semana, quando aconteceu o parto. E não me arrependo!
Pude
ser mãe daquele bebezinho durante todo esse período. Conversava com ela o dia
todo. A acordava quando eu acordava e a colocava pra dormir quando ia pra cama.
Avisava quando estávamos indo passear, e mostrava a ela todo o carinho que ela
recebia quando chegava uma visita, na maioria das vezes com um presente na mão.
Sim,
ganhei muitos presentes! Um enxoval quase completo, com direito à kit de berço,
fraldas, roupas e tudo mais. E não me sentia mal com isso. Eu acreditava e
continuo acreditando em milagres, mas em todas as minhas mais dolorosas orações
não sentia que era vontade Deus curá-la para que eu pudesse tê-la comigo por
mais tempo. Então passei a ver o milagre de outra maneira. Ele foi acontecendo
cada dia em que a Maria Eduarda
continuava conosco.
Quando
já sabia do problema, estava novamente em discussão no STF - Superior Tribunal
Federal, a liberação do aborto para casos de anencefalia. Uma afiliada da Tv
Globo queria repercutir o assunto na região onde morava, no Vale do Paraíba, e
como tenho muitos colegas lá, entraram em contato comigo. Foi bom. Assim eu
pude primeiro, já contar pra todo mundo qual era o problema sem ter que ficar
explicando um por um que me abordasse e, segundo, expôr minha opinião contra o
aborto. Em seguida, gravei um depoimento, que em breve postarei aqui, levado
pela Dra. Elizabeth Kipman, da Comissão em Defesa da Vida da CNBB ao STF
durante os debates. Adoraria ter ido lá pessoalmente, mas não era conveniente
aos 7 ou 8 meses de gravidez.
Era
o que eu podia fazer! Brigando pelo filho dos outros, me senti brigando pela
vida da minha filha.
E
assim quero continuar. Por isso, além de minha experiência, dos meus
sentimentos, também quero dividir com vocês tudo que for notícia, informação,
novidades e conquistas sobre a Defesa da Vida!
Tenho
certeza de que poder trabalhar nesse sentido, é uma maneira de retribuir a toda
alegria que minha filha me trouxe. Pois ela me trouxe várias. Quando reagia
chutando minha barriga em nossas conversas, quando mexia lá dentro, como se
quisesse me afirmar que ainda estava lá, comigo! Quando chorou ao nascer, mesmo
sem ter condições para isso, quando segurou meu dedo com todos os da mãozinha
dela, como se não quisesse que eu fosse embora. Quando resistiu fortemente por
três dias, permitindo que eu pudesse dizer e transmitir a ela o quanto eu a
amava. Talvez seja difícil para você compreender como posso ver isso como
alegrias. Mas hoje tenho condições de afirmar isso, por entender que esse foi o
plano de Deus na minha vida, e que Ele poderia tê-la levado ainda dentro da
minha barriga, mas olha o quanto mais me foi permitido!
Se
as vezes me pego chorando, é de saudade, uma saudade natural, normal, sem
culpa. Uma saudade de coisas que não pude fazer, como trocar a fralda, dar
banho, amamentar, pegar no colo... mas também uma saudade das poucas que pude.
Agora, imaginem se eu tivesse feito o contrário?
Fonte: Mâes escolhidas a dedo
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