Pesquisadores nos EUA e na Alemanha afirmam ter obtido o que pode ser visto, sem muito exagero, como o Santo Graal da pesquisa com células-tronco: uma forma segura de transformar células adultas em entidades “primitivas”, capazes de dar origem a qualquer tecido do organismo. Essa reprogramação, que leva a células adultas com características embrionárias, só tinha sido conseguida até hoje alterando geneticamente as células originais. Na nova pesquisa, um coquetel de proteínas é suficiente para operar a mágica.
A importância do feito não pode ser subestimada. Se o trabalho coordenado por Hongyan Zhou, do Instituto de Pesquisa Scripps, na Califórnia, estiver correto, trata-se de uma maneira aparentemente segura de produzir tecidos “sob medida” para transplante. Esses tecidos — como músculo cardíaco para doentes do coração ou neurônios para portadores do mal de Parkinson — teriam DNA idêntico ao do paciente, uma vez que seriam derivados, por exemplo, de uma amostra de pele dele. Assim, não haveria risco de rejeição. Como um bônus, os problemas éticos ligados ao uso de células-tronco de embriões ou à produção de embriões clonados ficariam de vez para trás.
Essa, ao menos, é a promessa embutida nessa linha de pesquisa, envolvendo as células iPS, ou células-tronco pluripotentes reprogramadas, na sigla inglesa. Hongyan Zhou e seus colegas, em artigo na revista científica “Cell Stem Cell”, descrevem a criação de um coquetel proteico que induziu células de camundongos a assumir as características de células iPS. As proteínas usadas — com os nomes nada amigáveis de Oct4, Klf4, Sox2 e c-Myc — são as mesmas que serviram para reprogramar células em tentativas anteriores.
A diferença é que as pesquisas prévias usavam o DNA que contém a receita para a produção dessas proteínas. Ele era inserido nas células adultas. Funcionava — mas o medo era que a alteração genética também bagunçasse aspectos fundamentais dessas células. No fundo, poucos pacientes iriam querer inserir células transgênicas em seu organismo.
Zhou e companhia viraram esse jogo ao modificar o quarteto de proteínas de forma que elas fossem absorvidas pela membrana das células de camundongos. Após um processo de “tratamento” prolongado, eles obtiveram células reprogramadas que, na prática, são iguais a células-tronco embrionárias. São pluripotentes, ou seja, conseguem dar origem a qualquer tipo de tecido - alguns exemplos são células pancreáticas, do coração e do fígado.
Se o procedimento realmente se mostrar seguro e for reproduzido com células humanas — e não há nenhuma razão especial para isso não aconteça –, testes pré-clínicos e clínicos das iPS contra doenças podem estar a caminho.
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