segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

1ª ESCOLA PARA GAY EM CAMPINAS COM VERBA DO GOVERNO


SÃO PAULO - A cidade de Campinas, no interior paulista, terá a primeira escola para jovens gays do país. Com recursos do Ministério da Cultura e do governo do estado, a ONG E-Jovem vai abrir a escola em março, com cursos gratuitos de dança, canto, TV-Web e produção de fanzines. Dezenas de adolescentes homossexuais e heterossexuais já fizeram as inscrições para as aulas, que terão 20 alunos por turma. Na grade curricular do ano que vem, já está previsto um curso para formação de drag queens.

- A Parada (Gay) mostrou que os homossexuais existem. Agora, queremos mostrar que eles falam e têm o que dizer - afirma o professor universitário e militante gay Deco Ribeiro, de 38 anos, um dos idealizadores do projeto.

A escola não vai oferecer o ensino regular, mas cursos que promovam a cultura homossexual e fomentem a formação de meios de divulgação, como os fanzines e a TV por internet. O projeto tem financiamento público de R$ 180 mil, a serem gastos em três anos. A proposta de criação da escola foi uma das 300 contempladas no programa do governo para a formação de pontos de cultura.

" A Parada (Gay) mostrou que os homossexuais existem. Agora, queremos mostrar que eles falam e têm o que dizer "

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- O importante é valorizar a identidade desses jovens, que precisam de um espaço de cultura e de meios para se expressar. Há muito preconceito, e uma forma de combater isso é valorizando a cultura LGBT - afirma Deco.

Por LGBT entende-se "lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros", mas a escola está aberta também a heterossexuais. Os cursos são gratuitos, e voluntários já se inscreveram como professores não remunerados. Caso do estudante Cristiano Henrique da Silva, de 18 anos, que ensinará canto.

- Tenho sete anos de conservatório musical, participei do coro da Igreja, e quero dar as aulas - conta Cristiano.

O jovem é irmão de Leandro Henrique Ochialini, de 19 anos, bailarino e futuro aluno de dança da escola. Criados em famílias diferentes, os dois agora moram com a mãe, em Campinas, e há apenas dois anos revelaram um ao outro sua orientação sexual.

- Vivíamos disputando a atenção da nossa mãe, brigávamos. Agora, que um sabe do outro, somos os melhores amigos - diz Leandro.

O bailarino conta que sofreu preconceito na escola e até em academias de dança. Para ele, um centro de cursos sobre cultura gay vai ajuda-lo profissionalmente e deixa-lo mais à vontade para assumir sua identidade. Para se ter uma ideia da pressão que o rapaz sente, seu pai, que vive em outro estado, ainda não sabe sobre sua homossexualidade.

- Com a minha mãe está tudo bem, mas falta o meu pai. Agora, quando ele ler a matéria, eu vou poder falar para ele. Assim, a gente esclarece tudo.

Inscrito no curso de TV-Web, o adolescente Fernando F., de 17 anos, está animado com a perspectiva de usar a internet como meio de expressão. Seus pais ficaram sabendo sobre sua homossexualidade quando, pela extensão telefônica, o pegaram conversando com um amigo sobre uma paquera:

- Meu pai entrou no meu quarto e falou muita coisa para mim. Ele acha que eu sou doente e que pode me curar. Ele quer me curar na Igreja evangélica, como se fosse uma doença.

A escola terá aulas para quem quiser ser drag queen dadas por Chesller Moreira, de 27 anos, dirigente da ONG e companheiro de Deco, e que também é a drag, Loren Beauty .

- Me tornei a Loren por causa da militância. Nos eventos, começavam a pedir a Loren porque ela fala muito melhor com os adolescentes. E foi ficando. É a minha outra identidade - explica Chesller.

O jovem, formado em costura e estilismo, lembra que, na adolescência, quando a mãe descobriu que era gay, ela perguntou: "Você não vai se vestir de mulher, não, né?"

- Todos precisam de um tempo para entender. Agora, é minha mãe que me dá as perucas. Quando ela me viu 'montada', disse: 'Nossa, como você está linda!'

A pesquisadora Miriam Abramovay, da Ritla (Rede de Informação Tecnológica LatinoAmericana), especialista em educação, questões de gênero e violência escolar, aprovou a ideia da escola gay.

- É importante que as pessoas que sofrem mais preconceito tenham seus próprios espaços. Não se trata de uma escola formal, mas de um centro de convivência, formação e diálogo - analisou.

FONTE: O GLOBO 25/01/10

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